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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Uma mente bizarra

          Magali era completamente louca, mas ninguém sabia. Só eu. Isso porque a moça era tão chata que ninguém gostava de conversar com ela, mas eu - que tenho uma paciência de Jó - era sistematicamente submetida a horas de lengalenga em que se mesclavam delírios psicóticos, reclamações generalizadas e muita maledicência.
          Por exemplo, ela chegava e dizia que tinha passado a manhã observando pequenos duendes andando sobre a sua mesa.
           “Duendes? Como assim?”
           “Duendes, ora. Eles entravam pela janela, atravessavam a minha mesa e saíam do outro lado . Você sabe que a minha mesa fica encostada na parede bem em frente à janela. Então eles não fizeram cerimônia nenhuma. Entraram e saíram a manhã toda.”
          E falava isso muito séria, como se fosse uma coisa normal. Uma vez quis me ensinar uma ginástica que servia para aliviar cólicas. Era uma série de movimentos completamente ridículos; poupar-me-ei de descrevê-los.
           “Onde você aprendeu isso, Magali?”
           “Foi um anjo quem me ensinou.”
          De vez em quando relatava coisas esquisitas que lhe aconteciam, como a chuva de gotas douradas que caía sobre a sua cama quando ela se deitava. Imediatamente após começava a falar mal de alguém. Logo em seguida ensinava uma receita de geleia. E por aí afora.
          Esse comportamento maluco não a impedia de trabalhar e de cumprir prazos, mas afastava as pessoas. Então ela era solitária. E cada vez mais chata e fofoqueira.
          O ponto alto de sua loucura foi quando revelou que na noite anterior Nossa Senhora tinha feito o “casamento místico” dela com Jesus Cristo. Muito séria, descreveu pormenores da cerimônia. Não posso contar o que ela disse porque não me lembro de nada. Acho que não prestei muita atenção. Nessa época já estava bastante incomodada com essas conversas bizarras e com as fofocas intermináveis. Perder tempo dando trela a gente sem noção, definitivamente não dá.
          Vai daí, num dia de TPM exacerbada, quando vi a Magali começar o papo furado de sempre, fiquei irritada e disse alguma coisa de que ela não gostou. Ficou de mal comigo. Foi um grande alívio!
          Vários meses depois, ela já trabalhando em outro local, a vi por acaso quando passou na avenida dirigindo um carrão.
          Hein? Magali doidona dirigindo um carrão?
          Pois é. O sinal de prosperidade indicava que nem os duendes, nem as chuvas douradas, nem as cerimônias místicas, nem as incessantes fofocas a impediam de realizar o seu trabalho e de cumprir os prazos.
          No final, é isso o que importa, certo?
          (Ou não?!)
Imagens:
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