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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Carne de sapo

          Giusepe era um garotinho de cinco anos muito mimado. Filho único, mandava e desmandava nos pais, principalmente na mãe. Um dia ela precisou passar o dia todo fora e não podia levá-lo, então resolveu que o menino iria ficar com a tia, que tinha dois filhos da mesma idade. Foi chegando e dando instruções à cunhada:
           “Olha, o Giuzinho come de tudo, menos pimentão e chuchu. Ele também detesta cebola frita. Se você fritar ovo, não deixe a gema quebrar, tá? Ele gosta com a gema dura, mas não pode estar quebrada senão ele não come. Peixe não tem problema, menos sardinha, porque faz mal a ele. Galinha ele não come de jeito nenhum, não adianta insistir. Se você fizer bife, não esquece de tirar as cebolas, senão ele não vai nem tocar.”
          Enquanto ela falava, a tia só sorria e balançava a cabeça fazendo que sim. A verdade é que estava muito irritada por ter de cuidar daquele moleque malcriado. E pensava lá com os seus botões:
           “Até parece que vou me preocupar com o que ele gosta ou não gosta. Vai comer o que estiver na mesa. Se não quiser que não coma, mas não vou ficar perguntando o que ele quer. Só me faltava receber ordem de criança!”
          Essa senhora tinha métodos bem mais rústicos para cuidar dos filhos, mas estava dando certo, porque os meninos eram independentes, saudáveis, e nunca faziam manha.
          As coisas transcorreram razoavelmente bem pela manhã. Na hora do almoço tinha arroz, feijão, coxas de frango e salada de alface e tomate. Giusepe foi logo reclamando, naquele tom de criança exigente e choraminguenta:
           “Não quero frango!!! Não gosto de frango!!!”
          E a tia:
           “Mas isso não é frango!”
           “É sim! É coxa de frango! Eu não vou comer isso não!”
           “Se não quiser não coma, mas vai perder a chance de experimentar uma coisa muito gostosa.”
           “Frango não é gostoso, é horrível!”
           “Mas estou te dizendo que isso não é frango!”
           “Então o que é?”
           “É sapo! Não é coxa de frango, é coxa de sapo!”
           “Que nojo! Sapo é sujo!”
           “Esse não é sujo não! Comprei no açougue. É sapo criado numa lagoa bem limpinha.”
           “Mas sapo é pequenininho, essa coxa é muito grande pra ser coxa de sapo.”
           “É que eles dão vitaminas para os sapos crescerem fortes e ficarem gostosos.”
          O menino, que não era bobo, observava com o rabo do olho os dois priminhos que não estavam prestando a mínima atenção naquele papo de gente doida e comiam com muito apetite as coxinhas dos seus pratos. Tudo indicava que, ao terminarem as suas, iriam querer a dele. Então resolveu arriscar. Uma mordidinha, uma mastigadinha, uma engolidinha... Hmmm... estava gostoso. Não pensou mais em nada; comeu e repetiu.
          A tarde passou sem intercorrências graves, só algumas brigas. No final, quando a mãe do Giusepe chegou para buscá-lo, nenhuma criança havia sangrado nem apresentava hematomas, então tudo estava bem.
           “Venha, Giuzinho! Mamãe vai levar você pra casa e fazer o seu jantar. O que você quer comer, meu amor?”
           “Eu quero carne de sapo!”
          A mãe olhou para a tia perguntando silenciosamente que conversa estranha era aquela, mas a tia apenas fez um gesto como quem diz: “Coisas de crianças!”
           “Giuzinho, meu querido, carne de sapo é porcaria, não serve pra comer.”
           “Nãããooo!! É gostoso!! Eu quero carne de sapo!”
          E foram embora, com o garoto gritando sem cessar.
          Instantes depois, como o berreiro não parasse, a tia abriu a cortina da janela e viu quando o menino se atirou no chão da calçada, esperneando e gritando.
           “Eu, hein? É nisso que dá criar um filho com tanto mimo. Agora aguenta.”
          Fechou a cortina e foi cuidar da vida.

Imagem: http://www.frog-clip-art.com

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