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sábado, 16 de agosto de 2014

Um acontecimento importante

Ele era jovem ainda quando ficou viúvo. Uma doença longa e penosa vitimou a sua mulher. Quando ela morreu, uma parte dele foi junto. Nunca mais se sentiu completo.
Não tinha filhos, não se interessou mais por ninguém, assumiu por completo a viuvez e a solidão. Continuou vivendo porque não tinha alternativa.
Anos depois sua irmã mais nova se casou e tocou a ele cuidar da mãe idosa. Teve que lidar com um novo luto ao deixar a casa onde tudo estava impregnado com lembranças da esposa. Voltou a morar com a mãe, que não quis de jeito nenhum se mudar.
Agora não tinha mais o singelo consolo de se sentar na velha poltrona à noite, ouvindo de olhos fechados, com a luz apagada, aquelas músicas antigas de que ele e a mulher gostavam tanto. Agora a vida era trabalhar e cuidar da mãe, cuja companhia não o tornou menos solitário.
Então chegou aquela quarta-feira especial. Por algum motivo misterioso, acordou com a forte impressão de que alguma coisa muito boa estava para acontecer. Mas o que seria?
Vasculhando a mente em busca de explicações, não encontrou nenhum motivo para estar se sentindo assim. Não havia indícios de mudança, nem para melhor nem para pior, em qualquer aspecto da vida. Tudo igual, como sempre esteve. Porém a sensação continuava.
Quando chegou ao trabalho ouviu comentários sobre a mega sena acumulada cujo sorteio seria naquele dia. Veio uma certeza repentina e forte: “Tenho que jogar nessa mega sena! É preciso, é indispensável, é imperativo que eu jogue nessa mega sena!”
A expectativa do tal acontecimento maravilhoso acentuou-se depois que ele tomou essa decisão. Esquisito isso, uma vez que jogar em loterias era coisa que jamais o havia interessado.
À medida que as horas passavam, aquela percepção foi se transmutando em algo que há décadas não sentia, tanto que estranhou no início e levou algum tempo para identificar. Era felicidade!
Felicidade como, se a sua amada esposa continuava ausente e nenhum prêmio de loteria, por maior que fosse, poderia trazê-la de volta?
Na hora do almoço ele saiu e foi à casa lotérica. Fez o jogo com as mãos trêmulas de emoção. Não entendia nada do que estava acontecendo, mas, como tantas vezes em sua vida, desistiu de questionar e deixou-se levar, fazendo o que devia ser feito.
Saiu da lotérica ainda com o recibo da aposta na mão. Olhava para os seis números com o coração batendo forte. A sensação de felicidade ia aumentando, chegando ao ponto de ele sorrir. Há quantos anos não sorria de verdade, do fundo do coração? De repente, não conseguiu refrear uma risada de pura alegria!
Foi nesse momento que o carro o atingiu. O motorista conseguiu frear a tempo de evitar o atropelamento, mas o empurrão do para-choque o fez cair e bater a cabeça. Morreu instantaneamente. Segundo testemunhas, ele havia tentado atravessar a avenida movimentada sem olhar. Estava distraído lendo um papel que tinha nas mãos.
Esse papel voou e se perdeu na sarjeta. Seus números não foram sorteados.

Imagem: http://galleryhip.com

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