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sábado, 9 de agosto de 2014

Cartas de amor

Minha amiga Marilene trabalhou uma certa época no departamento de previdência social de um banco. Era um escritório pequeno e isolado, onde, além dela, havia o chefe e uma outra funcionária.
Esse chefe era um jovem de olhos muito brilhantes, com as últimas espinhas ainda estourando no rosto. Depois de algum tempo, quando os três já tinham adquirido suficiente familiaridade, ele começou a expor seus pontos de vista sobre variados assuntos, incluindo sua opinião sobre as mulheres.
Encurtando a história, o rapaz - Ademir - se dizia um grande conhecedor da alma feminina, de tal maneira que não havia novidades possíveis para ele, e insinuava que era um arrasador de corações. Para completar, classificava as duas moças como ingênuas e inexperientes.
Do exposto acima é possível perceber que o Ademir, além de estar com os seus hormônios em vulcânica atividade, era bastante imaturo. As minhas amigas, se tivessem mais maturidade que o chefe, teriam percebido isso e colocado um limite nas coisas. Mas eram todos muito jovens, e sendo assim só o que elas queriam era uma desforra.
Começaram então a notar que o Ademir usava os momentos livres para escrever furtivamente coisas misteriosas. Colocava tudo em uma pasta que ficava sempre trancada em uma gaveta.
Um dia em que a pasta foi esquecida em lugar acessível, a curiosidade (e o desejo de vingança) falaram mais alto do que a ética, e elas leram tudo. Eram relatos de aventuras amorosas. Mal inventadas e mal escritas. Erotismo simplório e brega, típico da imaginação de um virgem não assumido.
As meninas deram muitas risadas e resolveram fazer uma brincadeira. Não se tratava de vingança, mas de simples gozação. Pediram que eu escrevesse cartas apaixonadas para o Ademir enviando para o endereço do escritório (a fim de que pudessem observar a sua reação). A minha maturidade não era maior do que a de todo esse pessoal, então achei que seria bem divertido. Como a ideia era apenas fazer brincadeira, escrevi uma carta muito exagerada e ridícula, que qualquer ser humano normal iria tomar como falsa. Algo assim:
Para a grande surpresa das meninas, ao ler aquilo ele - em vez de reconhecer a brincadeira - ficou com o rosto vermelho, guardou a carta e não comentou nada. O grande conhecedor da alma feminina tinha acreditado naquela bobageira!
O que fizemos? Continuamos a escrever. Cada carta era mais imbecil e exagerada (e com mais erros de português) que a anterior, e ele continuou acreditando!
Isso se prolongou por algum tempo até um dia em que ele estava particularmente insuportável, contando vantagens sobre a sua grande experiência com as mulheres, comparando sua excepcional sabedoria e astúcia com a ingenuidade pueril das meninas.
A certa altura a Marilene perdeu a paciência e revelou a brincadeira. Nesse momento elas realmente se vingaram, porque o Ademir ficou com a maior das caras de tacho, provando mais uma vez que havia acreditado em tudo.
A reação seguinte foi ficar zangadíssimo e exigir uma conversa comigo.
Encontrei o rapaz muito revoltado, os olhos brilhantes faiscando de raiva, as espinhas querendo estourar de ódio! Levei a maior bronca. Como me atrevia a brincar com os sentimentos das pessoas daquele jeito?
“Mas Ademir, como você acreditou naquelas bobagens? Não percebeu que era exagerado demais?”
“Acontece que é impossível prever o efeito daquilo que dizemos! Não dá pra saber o que as outras pessoas vão sentir. É por isso que não se pode ser leviano! Blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá!”
Nos dias que se seguiram ele bancou o ofendido, tanto que as minhas amigas acabaram ficando com uma ponta de remorso. Eu não fiquei com remorso nenhum, e acho que ele posou de ofendido só pra não ter de olhar nos olhos das meninas e admitir que era mais ingênuo e inexperiente do que elas.
Espero que, com o passar dos anos, ele tenha amadurecido. Ou então (já que gosto não se discute) tenha encontrado alguém capaz de lhe escrever, com toda a sinceridade, cartas iguais àquelas...

(Imagem: http://www.loftwork.com)

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