Estávamos, Carlos e eu, sentados a uma das mesas da padaria esperando os nossos pedidos. Minha atitude calma e silenciosa escondia um turbilhão de ideias. Eu sabia o que ele estava pensando e, embora discordasse, não queria chateá-lo. Daí o meu esforço em imaginar uma forma diplomática de abordar o assunto.
Enquanto isso notei uma família que entrou e se acomodou em uma mesa atrás do Carlos. Um casal e uma garotinha vestidos modestamente mas com capricho, naquela deselegância discreta de que falava o Caetano. Pareciam estar voltando de um passeio.
Nós também estávamos voltando de uma espécie de passeio. Tínhamos visitado um maravilhoso buffet de festas infantis. Nosso primeiro filho ia completar um ano, e eu queria dar uma festa grandiosa. Meu marido tinha outra opinião: o bebê é muito novo, para ele não vai significar nada, a despesa não compensa. Eu, pelo contrário, fazia planos de chamar toda a família, os amigos e as respectivas crianças para uma tarde de muitas brincadeiras, doces, salgados, refrigerantes e bolo.
Falando em bolo, reparei que a senhora do casal havia se levantado e estava examinando a vitrine de confeitaria. Passou direto pelos bolos e se concentrou nas tortas pequenas, aquelas de tamanho individual. Chamou o atendente e apontou para uma delas.
Voltei a atenção para o Carlos. Ele vinha de uma família de classe média baixa, por isso aquela constante preocupação com dinheiro. Não era o meu caso, mas sempre entendi e respeitei o seu modo de ser. No entanto agora se tratava do nosso bebê, e eu queria sim enfiar o pé na jaca com fé e vontade, mesmo sabendo que ele não ia ficar confortável com a minha oferta de pagar tudo sozinha.
O garçom trouxe os nossos pedidos e dei graças aos céus pela chance de adiar a conversa mais um pouco.
Na mesa da família já estavam a pequena torta de chocolate junto com três copos de suco. "Esse pessoal vai ficar com fome", pensei.
Nesse exato momento a senhora abriu a bolsa e tirou alguma coisa de dentro. Sem parar de mastigar o meu delicioso pastel de forno com recheio cremoso, continuei a prestar atenção. Eram três velinhas cor-de-rosa, que foram cuidadosamente espetadas na tortinha sob o olhar vigilante e curioso da criança. Em seguida o pai riscou um fósforo e as acendeu.
No meio daquele burburinho não deu pra ouvir a família cantando "parabéns a você", até porque faziam tudo discretamente. Os gestos é que mostravam claramente a comemoração: as palmas da menina e o seu sorriso de felicidade não deixavam dúvidas.
Parei de comer e fiquei contemplando aquela cena linda. Ela se lambuzando toda com o creme de chocolate enquanto a mãe ia limpando o que era possível com um lenço branquinho.
Carlos terminou o seu pastel, tomou um gole de cappuccino e me olhou como quem diz: "vamos conversar sobre aquele assunto?" Mas quem tomou a iniciativa fui eu:
--- Amor, eu pensei bem e acho que você tem razão. Besteira fazer uma festa enorme para um bebê de um ano. A gente pode convidar o pessoal mais próximo e comemorar com um jantar aconchegante. O que acha?
A expressão no rosto do meu marido se transformou. Até os seus olhos brilharam. Saímos de lá abraçadinhos como dois namorados.
Mal sabe ele que vou pegar todo o dinheiro já reservado para a festa e doar para uma instituição que cuida de crianças. Porque o meu bebê merece essa homenagem. E aquela garotinha também. ❤️
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