Manhã de domingo fria e chuvosa. Muito cedo. Lá vou eu andando pela rua quase deserta. Se pudesse estaria também, como a maioria das pessoas naquele momento, debaixo dos cobertores. Mas nesse dia isso não era possível. Rua molhada e escorregadia: é melhor olhar onde se pisa. E justamente lá, onde se pisa, um brilho me chamou a atenção. Abaixo-me para examinar o fenômeno e encontro uma pulseirinha toda suja de lama escura. | |
Desenho de estilo antigo, cor de ouro velho, cravejada de pedras incolores muito brilhantes. (Ouro? Diamantes?)
De quem será? Não há ninguém nas proximidades; quem perdeu deve estar longe. Deve ser alguém muito descuidado para perder na rua uma joia tão linda. Olhando melhor, vejo que é uma pulseirinha de criança. Uma garotinha de uns sete, oito anos, foi quem a perdeu. Que pena, há de sentir falta. Olho em volta e realmente não vejo ninguém. Não tenho a quem devolvê-la. Levo para casa e limpo a peça com muito cuidado. Ficou mais bonita, assim limpinha. O brilho das pedras é notável. Não paro de pensar na garotinha que a perdeu. Dias depois levo ao relojoeiro. Ele faz um teste rápido e diz que aquilo não é ouro não. Concluo que as pedras não devem ser diamantes. Menos mal para a minha consciência. Já que não posso devolvê-la nem usá-la, nem tenho para quem dar de presente, guardo-a em uma caixinha bonita forrada de veludo vermelho escuro. Uma homenagem secreta à menininha que deve ter levado uma grande bronca da mãe mesmo sem ter culpa nenhuma, tadinha: o fecho estava defeituoso. |
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Pulseirinha perdida
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