O governador da ilha demonstrava
impaciência e certa irritação, embora estivéssemos conversando havia poucos
minutos.
― O senhor desculpe, não é má vontade, mas eu sei de antemão que a sua pesquisa
não vai ter sucesso. Já recebemos dezenas de geólogos, e todos foram embora do
mesmo jeito que chegaram: sem conclusão nenhuma.
― É pena eu não ter encontrado nada na literatura científica sobre essas
visitas anteriores. Teria chegado aqui com mais preparo.
― O senhor não encontrou nada porque não existem publicações. Como não
conseguiram explicar o fenômeno, todos resolveram fazer de conta que nunca
estiveram aqui.
Decepcionado, me apeguei à ideia de que os outros não possuíam conhecimentos
tão profundos como os meus. Nem instrumentos tão modernos.
― O guia vai conduzir o senhor. Esteja à vontade. Quando quiser partir da ilha,
venha avisar. Boa sorte.
Lá fomos nós, o guia e eu, em direção à montanha que jorrava água. Idêntica a
um vulcão, porém ― em vez de lava ― expelia água fresca e
doce. Ininterruptamente.
De onde surgia aquele manancial? Como se mantinha à baixa temperatura? Que
força projetava a água para cima, à semelhança de um chafariz gigantesco? Por
que a montanha não desmoronava apesar do atrito constante com o jorro volumoso?
O guia disse que jamais chovia ali. A névoa fina e incessante era responsável
pelo verde da vegetação. Contou também que certo pesquisador quis perfurar um
túnel atravessando a montanha lado a lado; foi expulso imediatamente. Outro se
jogou no orifício usando um escafandro; o jato o lançou para fora e ele quase
morreu. Essa e outras histórias bizarras me foram relatadas à medida que nos
aproximávamos do “Seio de Tétis”, nome da misteriosa montanha.
A tarde ia caindo. De repente fez-se noite. Não se viam mais os contornos das
árvores e das rochas, transformadas em sombras. Tudo escuro, apenas uma
luminosidade azul e difusa. O guia parou de repente e eu segui o seu olhar.
Estávamos diante de um cone negro que projetava ao céu inacreditáveis esguichos
luminosos.
O magnífico "Seio de Tétis".
O magnífico "Seio de Tétis".
― A água é luminescente? Ninguém me disse isso. Como é possível?
Voltei-me para ele, esperando resposta. Não era mais o guia, e sim
o governador ali do meu lado. Olhava-me com a expressão séria e cansada.
― Não te falei, geólogo?
― Não entendo... Como...?
― Você sabe a explicação.
Sim, eu sabia a explicação. Mas não queria pronunciá-la em voz alta. Deixei que
ele falasse.
― É muito simples. Você está sonhando.
Naquele momento percebi no seu olhar um brilho sutil, repentino, que durou menos de um segundo. Não havia sido reflexo das águas luminosas.
Naquele momento percebi no seu olhar um brilho sutil, repentino, que durou menos de um segundo. Não havia sido reflexo das águas luminosas.
Meu espírito foi atravessado por uma suspeita.
De que a solução para aquele mistério não era, afinal de contas, algo tão
simples assim.
Um comentário:
Será mesmo que ele estava sonhando?! ;)
Postar um comentário