Gabriel era gordo. Descendente de italianos, apreciava uma boa massa. Adorava as rosquinhas caseiras que eu levava de vez em quando. E retribuía com tortinhas de morango.
Ele era separado, com uma filha. O imóvel do casal ficou com a ex-esposa, que conservou a guarda da menina. O sonho do Gabriel era comprar um imóvel para ele, por isso economizava tudo o que podia.
Muito culto, o Gabriel. Com um senso de humor às vezes corrosivo, mas sempre inteligente. Ele vivia estudando francês. Planejava uma viagem para a França e queria aproveitar ao máximo, então achava imprescindível falar a língua do país.
Foi o Gabriel quem me iniciou nos mistérios da torta de ricota com passas, do patê de beringela e das HQs francesas, pelo que sempre lhe serei grata.
Ele tinha juntado quase todo o dinheiro necessário para a compra da sua casa quando aconteceu o confisco das cadernetas de poupança. O choque foi grande demais, sofreu um infarto. Não morreu, mas ficou debilitado física e emocionalmente.
Quando voltou a trabalhar ele me disse: “Agora não tenho mais esperança de um dia comprar a minha casa. Acabou-se tudo.”
Pessimismo exagerado, mas vindo de uma pessoa em estado depressivo dava pra compreender.
Pouco tempo depois ele teve outro infarto, e dessa vez foi fatal.
Ah Gabriel, querido amigo... de quem foi a culpa por você ter morrido tão cedo?
Quem mandou comer tanta comida italiana?
Por que não fez exercícios? Por que não fez dieta?
E por que se estressou tanto quando sequestraram todas as suas economias? Hein?
Ah, essas pessoas sensíveis...
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