Janeiro de 1960
Morava lá no bairro um jovem de origem italiana que atendia pelo apelido de Porpeta. Certa vez ele comprou um caminhãozinho Ford 38 em muito mau estado, e no dia seguinte, quando foi dar partida, constatou que o veículo não andava. Chamou então a molecada para empurrá-lo e fazê-lo pegar no tranco.
Empurraram sem dificuldade, e assim conseguiram subir e descer a rua algumas vezes, com o caminhãozinho “pegando” e “morrendo” intermitentemente.
Uma hora, quando estavam descendo, o Porpeta perdeu o breque! Para mal de seus pecados no fim da rua ficava um córrego, e foi lá mesmo que ele caiu.
Esse córrego era estreito e raso, de maneira que apenas as rodas dianteiras mergulharam na água suja; o chassi ficou apoiado no barranco com as rodas traseiras no ar. O rapaz, que por sorte não tinha se machucado, pôde sair com facilidade.
Aquele não era mesmo um dia promissor, porque ia passando uma viatura de polícia, e os policiais foram investigar aquele ajuntamento de gente. Não gostaram muito do que viram e requisitaram os documentos do veículo.
Ora, o Porpeta era um rapaz honesto, e não hesitou em apresentar “os documentos”. Era um papel comum onde estava escrito, em letras de mão:
Assinado, Galocha.
A polícia achou aquilo um tanto irregular e resolveu guinchar o veículo e levá-lo para as devidas averiguações. O Porpeta começava a ficar muitíssimo chateado com o rumo dos acontecimentos...
Veio o guincho, mas não tiveram sucesso em retirar o caminhãozinho porque, onde quer que prendessem o gancho, na hora de arrastar só conseguiam arrancar o respectivo pedaço, de forma que na margem do córrego foram se empilhando partes e mais partes do infeliz veículo. O objeto mais volumoso de toda a pilha era o eixo junto com as rodas, porque o resto ficou totalmente fragmentado.
O coitado do Porpeta ia assistindo à depenação do seu querido caminhãozinho e não podia fazer nada. Mas ninguém é de ferro: chegou uma hora em que ele não aguentou mais e começou a xingar, e a cada xingamento jogava alguma peça de volta no córrego. A molecada, solidária com o amigo, ajudava quando a peça era pesada demais.
Nessas alturas a polícia desistiu de tomar outras providências, achando melhor ir embora e esquecer o assunto. Ficou lá o Porpeta, entulhando o córrego com sucatas e desabafando os seus mais íntimos sentimentos.
Acabou-se o caminhãozinho. Em compensação, estava criado um verdadeiro parque de diversões, porque o córrego sendo raso permitia acesso a todas aquelas preciosidades: volante de direção, pneus, cabine, carroceria, etc.
Durante um bom tempo aquele entulho ficou lá, para alegria geral da molecada.
2 comentários:
Não sei se é a mesma pessoa mais conheci o porpeta
Pode ser sim. Esse era o apelido verdadeiro dele. Quando essa historinha foi lida no rádio, em um programa que havia na extinta Rádio Eldorado, a irmã e a mãe do Porpeta se manifestaram, dizendo que o reconheceram. Infelizmente já é falecido.
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