Vamos andando pela alameda enquanto ele me conta, com segurança e tranquilidade, o seu estilo de vida. É um senhor idoso mas de porte elegante, com voz firme e suave. Pelo seu modo de falar fica evidente que tem cultura.
“Eu moro em uma unidade residencial muito satisfatória. Fica no centro de uma área verde. No entorno, a vegetação é baixa. A altura da vegetação é proporcional à distância da residência, indo da grama rasteira próxima à porta de entrada aos arbustos floridos de porte médio, no limite do jardim. Para além, o bosque típico de região temperada, nem muito denso nem muito alto. Não há espécies animais nessa região, apenas pequenos pássaros e borboletas.”
Eu demonstro interesse:
“Não fica muito isolada, essa residência?”
“Sim, mas a unidade é autossuficiente. Tem fonte de energia própria, que abrange as modalidades eólica, geotérmica e solar. A fonte de água fica ali mesmo na propriedade, com purificação automática acoplada, incluindo o aproveitamento da água da chuva. O processamento de resíduos também é automatizado e totalmente eficiente.”
Fico curiosa e quero saber mais:
“Deve dar muito trabalho manter tudo isso funcionando. O senhor tem empregados?”
“Não tenho empregados. Para o funcionamento pleno de todo o aparato é necessário apenas fazer manutenção a cada cinco meses, quando também é substituída a bateria de emergência e renovado o estoque de alguns tipos de alimentos. A maioria dos recursos nutricionais eu mesmo cultivo nas cercanias da unidade.”
Não consigo deixar de elogiar:
“A descrição que o senhor me faz é admirável. O local me parece um paraíso.”
“É o meu paraíso. Pretendo voltar para lá em pouco tempo. Assim que terminar os assuntos que requerem a minha atenção por aqui.”
Nessa altura já estamos de volta à casa onde ele está hospedado. Vem nos encontrar, toda sorridente, uma das auxiliares de enfermagem:
“Foi bom o passeio, professor? Está uma tarde muito bonita, não? Agora é hora de jantar. Vamos lá?”
O professor vira-se para mim, estende a mão e se despede:
“Obrigado pela companhia, doutora. Foi muito agradável a nossa conversa.”
“Para mim também, professor. Amanhã nos vemos outra vez.”
“Assim espero. Boa noite.”
E lá se vai ele ao lado da auxiliar de enfermagem. Professor de engenharia. Sua mente não resistiu à perda do filho. Que bom ele ter construído uma unidade residencial tão perfeita e confortável naquele local maravilhoso, com flores, pássaros e borboletas. Seu paraíso particular. Para onde voltará após o jantar, assim que for levado ao seu quarto de dormir, nesta casa de repouso.
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