Brianna chegou e foi direto para o quarto. Já entrou tirando os sapatos.
― Fergus! Deitado no meu travesseiro, né?
― É macio. Perfumado.
― Tá bom. Mas não acostuma, tá?
― Estou aquecendo pra você.
A menina largou a bolsa em qualquer lugar e se atirou na cama.
― Ai que cansaço.
― Pode ir contando. Como foi a festa? Ela é bruxa mesmo?
― Ha ha ha! Se ela é bruxa eu sou a Deusa Aine.
― Pelo menos a comida foi boa?
― Foi. Batata frita, sanduíche e refrigerante. De sobremesa, pudim e
brigadeiro.
― Sagrados chifres de Cernuno! Não tinha ervas para colocar nos
pratos? Louro, erva-doce, alecrim...
― Não! Só ketchup e mostarda!
― Nem um pouquinho de hidromel?
― Nada! Só refrigerante e água.
― Por que ela pensa que é bruxa?
― Ela ganhou um livro sobre o tema. Leu, achou bonito e pá! virou
bruxa.
― Se fosse assim eu lia um livro sobre panteras e virava uma pantera
negra poderosa no meio de uma floresta selvagem.
Brianna se espreguiçou toda como uma felina sonolenta.
― Ainda bem que eu já nasci maravilhosa. Não preciso me transformar em nada.
― Além da comida o que mais teve na festa? Dança em volta da fogueira?
― Ah isso teve sim. Foi na área de serviço, em volta de uma
churrasqueira portátil cheia de carvão aceso.
Normalmente impassível, Fergus se remexeu como se alguma coisa o
incomodasse.
― Churrasqueira portátil? Não entendo.
― Uma dessas redondas, que parecem um caldeirão.
― Não tinha fogo? Só carvão aceso?
― Isso mesmo. A mãe dela disse que fogo era muito perigoso.
Fergus abriu a boca mas não emitiu nenhum som. Ficou alguns instantes pensativo.
― Por que na área de serviço e não ao ar livre? Ela não tem um quintal,
um jardim?
― Tem. Mas a mãe dela não deixou
fazer a dança no quintal por causa da friagem da noite.
Dessa vez Fergus não se conteve e soltou um grunhido.
Imediatamente ouviram-se risadas endoidecidas vindas do corredor. Brianna levantou-se depressa e abriu a
porta. Seu irmão mais novo e um coleguinha riam e faziam gestos
desencontrados.
― Sai daqui, moleque! Vai procurar o que fazer!
O garotinho continuou dando gargalhadas e cutucou o amigo:
― Eu não te falei, Felipe? Eu não te falei? A minha irmã conversa com o
gato!
Felipe, sem nenhuma cerimônia, correu para dentro do quarto. Sobre o
travesseiro de rendas brancas, em pose majestosa, repousava um belíssimo gato
preto.
Imóvel, Fergus o encarava com ar de reprovação, uma expressão quase humana nos olhos verdes, luminosos. O menino gritou de susto e saiu correndo.
― O que foi, Felipe? O que foi? O que aconteceu?
Sem parar de correr, já descendo as escadas, ele respondeu com voz estridente, carregada de pavor:
― O gato falou comiiiigo! O gato falou comiiiigo!
Imóvel, Fergus o encarava com ar de reprovação, uma expressão quase humana nos olhos verdes, luminosos. O menino gritou de susto e saiu correndo.
― O que foi, Felipe? O que foi? O que aconteceu?
Sem parar de correr, já descendo as escadas, ele respondeu com voz estridente, carregada de pavor:
― O gato falou comiiiigo! O gato falou comiiiigo!
5 comentários:
Nesse caso, parece que sim! :D
Há mais história algum tipo de continuação?
Não há continuação. É apenas um conto curto. Às vezes escrevo textos assim, que dão a impressão de que poderiam ter uma sequência. Porém faz parte da brincadeira deixar o leitor completar, caso deseje, com sua própria imaginação. Para ilustrar o que acabo de dizer, sugiro uma visitinha ao conto "O seio de Tétis". 😉
http://inquietovagalume.blogspot.com/2016/10/o-seio-de-tetis.html
Ótima 👏👏👏🐈🐈🐈
Obrigada, querida Rê! ❤
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