Toda noite eu dizia: “Babá, tranque a porta desse armário senão eu não durmo aqui.”
E ela: “Não seja medroso, menino. Não tem nada no armário.”
E eu: “Tem sim. Tem um monstro que vai sair se a porta ficar destrancada.”
E ela: “Então por que ele não sai de dia? A porta fica aberta e escancarada o dia inteiro. Por que ele nunca saiu?”
E eu: "É porque ele não suporta a claridade. Quando todas as luzes estão apagadas, aí sim é a hora em que ele gosta de sair.”
E ela: “Você já viu esse monstro alguma vez, pra ter tanta certeza?”
E eu: “Não vi com os meus olhos nem ouvi com os meus ouvidos, mas sei que ele está lá. Tenho certeza.”
E ela: “Agora me explique, menino. Esse armário é pequeno, atrás dele só tem a parede, embaixo só tem o chão. Onde é que o monstro se esconde, que a gente nunca vê nem quando tira tudo de dentro pra fazer limpeza?”
E eu: “Não tenho a explicação. Só sei o que sei.”
E ela: “Então durma com a luz acesa, oras.”
E eu: “Não consigo dormir com luz acesa, você sabe muito bem.”
E ela: “Me responda uma pergunta. Se o monstro é assim poderoso, por que não arromba essa fechadura tão fraquinha? É a coisa mais fácil do mundo, até eu consigo se quiser.”
E eu: “Não sei, babá. Isso também não sei responder. Coisas de monstros.”
Ela não me acreditava. Eu dizia e repetia, e ela nunca acreditou. Nessa noite entrou aqui enquanto eu estava dormindo e só de teimosa foi lá e abriu o armário. Acho que queria me provar que não tinha nada lá dentro. Aí aconteceu o que aconteceu e não pude evitar. Só tive tempo de acender a luz bem depressa quando acordei com os gritos. O monstro fugiu por causa da claridade, mas já era tarde demais.
Coitada da babá... Era meio burra, mas bem boazinha. Coisa chata, não?
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