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"OS MENINOS DA RUA BETO"

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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Vendendo poesia

Lá estava eu num ponto de ônibus cheio de gente, vendendo os meus livros de poesia.
Escrevi três até hoje. O primeiro foi à mão. Mandei xerocar e eu mesmo grampeei as folhas.
O segundo bati à máquina lá no serviço. Depois xeroquei e grampeei.
Este terceiro levei para uma gráfica. Ficou muito bom o acabamento.
Sou um rapaz pardo. Sofro preconceito porque as pessoas não acreditam que preto também escreve poesia.
Preto pode fazer música, mas fazer poesia não faz. É isso o que a maioria acha.
Então eu estava lá oferecendo os livros para o pessoal que esperava os ônibus. Passam diversos naquele ponto, cada um pra um lugar, por isso não tem fila, só um aglomerado de gente.
Vai daí ofereci os livros para uma moça que parecia preocupada. O ônibus dela estava demorando demais, deu pra perceber.
Ela respondeu: “Não, obrigada.”
Eu insisti: “Mas por que não quer? Não gosta de poesia?”
Ela nem olhava pra mim, ficava prestando atenção pra ver se o ônibus estava chegando. Falou: “Pra dizer a verdade não gosto de poesia não.”
Mas eu estava decidido a vender alguma coisa pra ela, então apelei:
“Já sei por que você não quer comprar. É porque eu sou negro.”
Ela se sensibilizou. Não queria que eu pensasse que ela era racista. Respondeu: “Não tem nada a ver, é que não gosto de poesia mesmo, mas tudo bem, vou levar um livro seu.”
Me deu a impressão de que ela estava só querendo se livrar da amolação. Dei o livro, ela pagou, e nesse instante o ônibus dela chegou.
Na pressa de embarcar, e não tendo como ajeitar o livro no meio das coisas que carregava, ela o empurrou de volta para a minha mão e foi embora.
Ela não gostava mesmo de poesia. E acabou que me deu uma esmola para eu calar a boca.
Não gostei de ganhar esmola.

Imagens:
http://blog.serialreaders.com
http://www.mobilize.org.br

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