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quarta-feira, 2 de julho de 2014

A senhorinha do ponto da pracinha

Ela vai quase toda tarde, entre 4 e 5 horas, ao ponto de ônibus da pracinha.
É uma senhora de 80 anos muito simpática, sempre bem vestida e bem penteada, com os cabelos tingidos de loiro acobreado.
Ela chega, senta-se no banco do abrigo, e imediatamente começa a falar com quem estiver mais próximo. Durante essa conversa relata toda a sua vida, em detalhes. Às vezes mostra fotos.
Se o ônibus chega e ela perde o interlocutor, imediatamente se vira para outra pessoa e reinicia a conversação.
Mas não está interessada no que o outro tem a dizer.
"Olha esta foto aqui. Sou eu e o meu marido. Aqui estou bem jovem, não? Ele já morreu faz tempo. Não foi fácil."
"É, eu sei... perdi o meu filho tá fazendo seis meses... ele morreu de meningite..."
"Então, tá vendo este colar que estou usando? É de pérolas verdadeiras. Foi da minha mãe. Ganhei no dia do meu casamento."
Eu já ouvi a história de sua vida várias vezes, embora ela tenha falado comigo em apenas uma ocasião.
Sei que é viúva, que criou o filho praticamente sozinha, que foi rainha da beleza no clube que frequentava quando mocinha, que torce para o mesmo time de futebol desde criança, que trabalhou em uma malharia durante 25 anos.
Seu filho mora em Santos e ela vive sozinha aqui em São Paulo. Só há uma coisa de que ela não gosta quando ele vem visitá-la: cozinhar. Ela detesta cozinhar e fez isso a vida toda; agora que é sozinha acha muito bom não ter mais essa obrigação, mas quando o filho vem é preciso fazer comida como antigamente, e disso ela não gosta não.
Era para ela ter tido, além dele, duas filhas gêmeas. Mas devido a um acidente acabou sofrendo um aborto. Esse acidente foi provocado por um gato. Sem querer, ela pisou no rabo do bicho, então ele deu um berro tão forte que ela se assustou e caiu de mau jeito.
Mas vejam como é a vida: agora tem duas netas gêmeas! As meninas são iguaizinhas, não dá nem pra distinguí-las. Por isso vivem fazendo brincadeiras com a avó, aquelas danadinhas.
Do que ela gosta mesmo, além de tomar cerveja de vez em quando, é passear de ônibus.
Os motoristas já a conhecem, conta ela, e a levam ao centro da cidade e depois de volta até o ponto final, lá na periferia. Eles esperam os outros passageiros descerem, vão até uma lanchonete próxima e compram um salgado e um café com leite; levam ao ônibus e esperam até ela acabar de comer. Só então retomam a viagem de volta, deixando-a no mesmo ponto onde a pegaram.
“Eles gostam muito de mim.” diz ela sorrindo.
Quem também gosta muito dela são os jogadores do time para o qual torce (desde criança, faz questão de enfatizar).
“Eles não andam jogando bem não. Fui lá no clube e conversei com eles depois do treino. Eles já me conhecem porque eu vou lá às vezes. Me respeitam muito, aqueles meninos.”
Daí relata minuciosamente a bronca que deu neles, já que não estavam jogando nada.
“Então o Fulano me respondeu: a senhora acha que a gente não está jogando nada, tia? Então a senhora faz assim: vem aqui no clube, coloca as chuteiras e vai jogar no nosso lugar.”
Dito isso, ela ri e repete: “Eles me respeitam muito, aqueles meninos.”
O ônibus chega. Ela entra, eu entro em seguida e vou procurar um lugar para sentar. Ela fica em pé ao lado do motorista, e imediatamente começa a explicar pra ele tudo o que aconteceu quando uma amiga levou o cachorrinho ao pet shop.
Imagem: http://youcallthatart.files.wordpress.com

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