Destrancamos a porta lentamente, com todo o cuidado para não assustá-la. Quando abrimos, ela estava sentada sobre um caixote de madeira, vestida com roupas que obviamente não eram suas. Ao redor, pedaços de pano e de papelão, alguns tijolos espalhados, desordem e poeira.
Em vez de uma reação de alegria ou de alívio, ela nos olhou com indiferença. Nem sequer se levantou. Tive que tomar a iniciativa:
--- Vem, senhora. Pode sair. Já prendemos a quadrilha.
Ela, desinteressada:
--- Prenderam?
--- Prendemos todos. A senhora está segura. Pode vir conosco. Seu marido aguarda lá fora.
Ela nem se mexeu.
--- Ele pagou o resgate?
--- Não. Ele acionou a polícia.
--- Entendo.
E ficou em silêncio, olhando para o nada. Deve ser trauma, pensei. Melhor conversar mais um pouco.
--- Então. Sua família está ansiosa. Vamos sair daqui agora? Seus pais viajaram pra cá e estão na sua casa esperando.
--- Ah sim. Meus pais...
Meu Deus! Que entusiasmo contagiante! Resolvi ser mais assertiva e chamá-la pelo nome, com outro tom de voz:
--- Vamos agora, dona Cláudia. A perícia quer entrar pra fazer o trabalho deles. Não tem por que continuarmos aqui. A senhora precisa passar por exame e depois se alimentar e descansar.
Me encarou pela primeira vez:
--- Pode me fazer um favor?
--- Com certeza, dona Cláudia, é só dizer.
Ela olhou em volta. Suspirou como se estivesse se despedindo do lugar.
--- Me dá só mais cinco minutinhos?
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